Cristiano dos Passos, ou melhor, "Cristiano Necrobutcher", nasceu em 25 de dezembro de 1973, em Florianópolis. Fundou em setembro de 1988 o "Necrobutcher", banda com a mais singular história que já se teve na região.
A banda era integrada por Cristiano nos vocais (ou urrais já que a maioria das vezes Cristiano não cantava- urrava), Argemiro Luciano dos Passos, irmão do vocalista, na guitarra; já a bateria era integrada por Elder Matinowsky. Ter um baixista era a grande dificuldade, conta Cristiano.
O Necrobutcher foi a primeira banda de "barulho" na Grande Florianópolis, conforme o próprio entrevistado falou. Cristiano salienta que teve influência de Fernando Trevas, fundador da banda Tumor Maligno, que em 1986 avacalhava shows com seu punk hardcore. Conta Cristiano que assistiu show do Tumor Maligno em 1987 e achou aquilo um máximo. Lembrava-se de músicas como "É culpa do Sarney" e "Como sangrava Gina", cantadas por Trevas. "O Fernando era um cara junky", observa Cristiano. "Junky" é uma gíria inglesa que quer dizer " lixo" ou " droga". O "junky" para Fernando Trevas não é uma ofensa, mas um elogio, ou seja, Trevas fazia um som " avacalhado" ou "junky" de qualidade.
O Necrobutcher nunca fez um show ao vivo; apenas ensaiava na garagem de casa do baterista, na vila São José, bairro de Capoeiras, Florianópolis, e gravava uma infinidade de fitas cassetes com músicas muitas vezes compostas na hora, sem grandes preparações.
A primeiro demo do Necrobutcher foi "Schizophrenic Christianity" (1989). Foi a exceção. Foi gravada num estúdio. Era o "Nova Vida", de Bela Vista, São José. Detalhe: era um estúdio evangélico. "Os caras ficaram apavorados com nosso som. Nunca os ouvidos deles levaram tanta pancada", conta Cristiano. A gravação da demo foi incentivada por Binho Pigg.
Depois vieram uma infinidade de gravações de fitas caseiras. A banda fazia umas enjambrações com fios entre um gravador caseiro e caixas de som. Resultado: saía um "porrada", como diz a gíria.
O Necrobutcher era uma banda de death metal. Em 1991, os músicos que integravam o Necrobutcher gravaram fitas cassetes usando outro nome "Wireless Helot" (Escravos sem fio). O som era outro estilo de "noise". E assim os integrantes do Necrobutcher foram inventando novas "bandas". Os nomes eram diferentes; os músicos eram os mesmos; mas o som diferenciava de estilo para cada "banda" inventada. As bandas existiam; pelo menos no papel das fitas demo gravadas. Aqui uma listas das bandas "inventadas" pelo "Necrobutcher".
Paresthesis Neurodeformities. Estilo de música: Noise.
The Saturday. Estilo de música: Grind como das bandas "Majesty" e "Nausea".
Psychopathic Narrow. Estilo de música: Doom/psicodélico.
Scrappy Screws Orchestra: Estilo de música: Noise experimental/ Minimalista.
Cristiano dos Passos e entourage gravavam as demos com o gravador caseiro, desenhavam as capas, gravavam vários cassetes da fita original e enviavam pelos correios para headbangers do mundo inteiro. Afinal, os três integrantes do "Necrobutcher" não saíam dos correios mandando cartas e encomendas de suas fitas. Cada um correspondia com 40 ou mais adeptos do death metal tanto do Brasil quanto do exterior.
As músicas desse trio versava-se entre críticas à religião, causas sociais, direito aos animais e defesa do vegetarianismo.
"Mas tudo acabou em 1992(*)", conta Cristiano. O irmão de Cristiano, Luciano, mudou-se para Lages onde foi cursar faculdade.
No fanzine "Kratos Magazine(**)", do Paraná, saiu uma reportagem sobre o Necrobutcher. Foi na edição número 1, página 17, junho de 1989, seção "Underground Maniax". O texto foi o seguinte:
"Necrobutcher- A banda foi formada em setembro/88 por Kranium (vocal), Satã (bateria) e Skulldetonador (guitarra), por serem muito poucos os que se identificam com o estilo deles, tornou-se difícil encontrar um baixista.
Depois de dois meses já haviam 12 músicas prontas, e apesar dos problemas (principalmente com a aparelhagem), que impedem que a banda caminhe mais rápido, o Necrobutcher segue em frente com muito esforço e vontade de divulgar seu som.
A proposta inicial e eterna da banda (segundo eles), é fazer um DEATHNOISECORE que se assemelhe a um liquidificador ligado, cheio de pedras, posers e regras medíocres da sociedade sendo triturados. Sem cair na bitolação da moda (thrash), e sem ligar para o que os outros dizem ou não a respeito deles, fazem o som que gostam do que fazem, foda-se o resto (tudo isto de acordo com o que eles dizem). Nós ouvimos o ensaio deles, e radicalmente a parte, tudo o que eles dizem acima, é mais ou menos verdade, se você for seguir à risca o estilo de som deles. Mas, como eu ia dizendo, radicalismo a parte, é uma puta banda de DEATHCORE, um som ultra porrada, a melhor definição que daria do som deles, é uma mistura de Sarcófago com Napalm Death, imagine a porrada. E acima de tudo, é um som com personalidade, a banda tem personalidade, e tem ideologia, eles sabem o que tão fazendo. Apesar de serem muito novos, média de 15 anos.
Contatos: Necrobutcher. A/C- Kranium. Rua Tiago da Fonseca, 187. Capoeiras. 88.000. Fpolis (SC) Brasil.
Ass: Nilton Devastador."
No fanzine Bulla Extrema, do Peru, foi publicada uma matéria sobre o Necrobutcher. Aqui a transcrição do texto publicado na edição número 2, de março de 1990.
"De la ciudad de Brasil (Florianópolis) viene este grupo de Death/ Noise/Core. Formada en setiembre del´1988 por Kranium (voz), Skull Detonator (guitarra) y Satán (bateria), sólo formaron trío porque no encontraron a otra persona que los ayudara con el bajo ya que por su estado parece ser que son personas de oídos sensibles y no gustan del estilo de Necrobutcher.
Su primera realización fue un ensayo a fines del 88 el cual contenía 15 temas y 2 covers (Sacórfago y Disector). Para la grabación de su primer demo (7/6/1989) llamado "Schizophrenic Cristianity" incluyeron un bajista el cual debido a su falta de "incomprensión ruidosa" abandonó la banda luego del primer demo (su cerebro no estaba capacitado), este demo contiene 9 temas como "Noise Vomiters", "Death to Posers", "No Thrash", "Abomination of God", "Cerebral Disturbance", y otros más.
Lamentablemente esta banda ya se disolvió, y el baterista ahora piensa hacer otra banda con un integrante de "Paresthesic Neurodiformites" (banda 100% noise de Brasil) piensa continuar con el estilo que dejó Necrobutcher.
Necrobutcher estuvo influenciado para hacer su "aplastante" estilo por Napalm Death, Disector (otra banda Grind/Noise Brasileña), Terrorizer, Occult, Hellhouse, Exterminator, Belleth, Agathocles, Sarcófago, etc. Su estilo es un compendio de todas estas bandas, mayormente rápido y con pocas partes pesadas.
Esperamos que la desaparición de Necrobutcher no sea en vano, y que surjan nuevas bandas de su estilo (Grind/Noise) para beneplácito de todos los amantes de este estilo)."
Aqui uma entrevista publicada sobre a banda, no fanzine Cemetery (edição nº 01, Novembro de 1989). A revista xerocada era publicada em São Vicente, litoral paulista. O editor era Alam Blare. Aqui a transcrição:
"Formam esta devastadora Banda Skull Detonator (guitarra), Kranium (vocais) e Sathan Leprofettus (bateria). Sem baixista e enfrentando dificuldades com aparelhagem, este fudido trio de Florianópolis (SC), leva adiante com total determinação o seu som ruidoso e veloz: Deathnoisecorr!!!
Elaborei uma entrevista e enviei para eles...Respondendo-a gentilmente, o Necrobutcher mostra a que veio:
AF - Como definem o seu som?
SD - Death Grind Core Noise, totalmente anti posers, modas, religiões e todas as idiotices do sistema, e com tendência a ficar cada vez mais podre, rápido, sujo, vomitado, brutal, mórbido, etc...
AF - Que bandas apreciam, no Brasil e no exterior?
SD - Todas que seguem fielmente o que gostamos, podemos citar algumas como: Brasil - Dissector, Necrovomit, Infantricide, Nuctemeron, Obscure, Olho Seco (atual), Masturbator, Expulser, Necrofago (MG), Ultra Violent, etc...
Exterior: Agathocles, Napaim Death, Repulsion, E.N.T., F.ºG., Terrorizer, Carcass, Crawl Noise, Mayhem (NW), Total Mosh
Project, Anarchus (México), Bathory, Occult, Hellhouse, Nun Slaughter e outras.
AF - Vocês acreditam no que fazem? Quero dizer, tocam por amor ao som ou pretendem apenas faturar com ele?
SD - Se o cara não gosta do que faz é melhor nem fazer, ou seja, o cara tem que fazer o que gosta e não o que é moda ou o que dá mais dinheiro. O nosso som é feito somente com o amor que temos ao que tocamos. Não temos ambição de ser os melhores ou de tocarmos com técnica, somente de fazermos o que gostamos. Se outros gostarem do nosso som, melhor, é satisfação para nós isso. Mas se não estiverem gostando: fodam-se, pois nós estamos. Não somos e nunca seremos como bandas tipo Explicit Hate, Holocausto, Sepultura, que só querem saber de faturar com o que tocam.
AF - Já tocaram ao vivo no sul, onde e com quem?
SD - Não tivemos oportunidade de fazer show ainda. Além disso não encontramos baixista, o que dificulta mais.
AF - Os Bangers apoiam vocês? Dão força?
SD - Aqui em Florianópolis só temos apoio de uns 4 caras. Temos recebido muito mais incentivo por parte dos fudidos Deathbangers de outras localidades.
AF - E seus pais?
SD - Não tomam nenhuma posição em relação ao nosso som. Talvez haja até um certo apoio, não tão direto, mas talvez haja...
AF - Vocês se consideram radicais?
SD - Sim, totalmente! Qualquer movimento alternativo tem que ser radical, na idéia e na prática, senão vira moda e logo acaba... É o que vem acontecendo por parte de umas bandas. Pessoas modistas, que para não serem taxadas de radicais, fazem, falam e ouvem só besteiras...
AF - Sentem discriminação de outras bandas ou de zines por trilharem o caminho que escolheram?
SD - Até agora, que a gente saiba não...
AF - Como estão vendendo o Demo Tape "Schyzophrenic Christianity"? As lojas especializadas em Florianópolis ajudam
vocês a divulgar o som?
SD - Vendendo?? Lojas de Rock?? Nós nos interessamos em mostrar o nosso som para aqueles que se interessam em ouvi-lo, que gostam desse tipo de som. Jamais venderemos o nosso Demo, pois não somos capitalistas loucos atrás de dinheiro, simplesmente gravamos para quem gpsta desse tipo de som e queira ouvir o nosso.
AF - Quais as idades de vocês?
SD - Kranium - 15 anos, Detonator - 17 anos e Sathan - 17 anos
AF - Quais os "Hobbies" do trio?
SD - Ouvir barulho, tocar, escrever cartas, lutar pelo que acreditamos, pelo nosso ideal, procurando cada vez mais nossa evolução.
AF - Por que optaram por um som mais agressivo e crú? Tem a ver com a sua forma de enxergar o mundo?
SD - Em primeiro lugar é o que gostamos, mas se analisarmos por um lado mais político, o tipo de som expõe a nossa revolta.
AF - Vocês estudam, trabalham, quais suas atividades fora do Necrobutcher?
SD - Só estudamos, por isso, estamos sempre sem grana...
AF - Quais são suas influências pessoais?
SD - Skull Detonator - Bill (Napaim Death/ Carcass), Kranium - principalmente o vocal do HellHouse, Sathan - bateria do HellHouse e DD (Sarcófago).
AF - Como está o cenário Underground em Santa Catarina? Tem espaços prá tocar?
SD - Aqui em SC é uma merda...Não tem nenhum espaço para o Heavy Metal, ainda menos para o nosso estilo, ou seja, para o Death Grind Core.
AF - O que acham de rock (pop), estilo Titãs, Capital Inicial, Kid Abelha, Barão Vermelhor, etc?
SD - Puro comercialismo, consumismo filho da puta....Só desejamos a morte desses caras e de quem os ouve, principalmente certos indivíduos que se intitulam Bangers (???) E que dançam esse pop rock nas boates: AAAAARRRRRRRRGGGGGGGHHHHHH!!!!!
AF - Vocês tem empresário/ telefone para shows? Quanto custa em média um show com uma banda nacional dentro do seu
estilo?
SD - Não, não temos empresário ou telefone para shows....Não sei quanto custa um show com uma banda nacional, mas se for
do nosso estilo certamente não será caro porque não queremos cachês ou coisas de "estrelas e boys" como apto 4 estrelas ou ingressos a 15 pau, para ficarmos com mais grana no fim...
AF - Como vêm o Heavy Metal no Brasil atualmente?
SD - Heavy Metal??? Não sabemos, estamos meio por fora...Quanto ao Deathcore, tem algumas bandas e pessoas que lutam seriamente pelo Underground e esperamos que continue assim...
AF - Como acha que os Bangers devem se comportar nos shows?
SD - De maneira que incentive a banda que está tocando. É claro que se o cara vai a um show, é porque gosta de alguma banda que tocará ali. Então, ele deve respeitar as outras que estão ou estarão tocando, porque como ele, os outros estão ali pelo mesmo motivo...Deve haver um total incentivo.
AF - O que acham da união entre punks-heavies? E o que poderia resultar desta fudida aliança?
SD - União? Claro que sim... O ideal dos conscientes é o mesmo, só diferenciam-se pelo som, porque o objetivo é o mesmo: foder com o sistema alienador e manipulador que nos é imposto, com suas normas e padrões que só beneficiam a classe do poder. Então, não só é possível essa união, como também é uma necessidade se quisermos atingir o mesmo objetivo. É claro que há uns palhaços inconscientes que só querem gerar brigas devido a sua ignorância. Aqui em Florianópolis há união nossa com uns punks conscientes.
AF - Como se posicionam em relação as drogas?
SD - Achamos que elas só servem para aqueles ignorantes que querem fugir da realidade, ou para uns palhaços que querem aparecer. Nós não gostamos de nenhum tipo de droga que vai nos fazer dependentes e que acaba com nossa vida sem motivos. Nós estamos aqui para mudar alguma coisa, para que os outros que virão tenham uma vida melhor que a nossa, então por que nos matar? Por que vamos nos destruir?
AF - Uma mensagem final para nossos leitores....
SD - Bem, queremos agradecer a você Alam, por esta inteligente entrevista e por todo o apoio que tem nos dado... Nós estamos tentando de todas as formas, acabar com o comercialismo existente no metal e em todo lugar. Não sei se conseguiremos, mas força de vontade nunca nos faltará. Pode ser que nunca consigamos modificar algo, mas hoje são poucos conscientes, amanhã serão esses poucos + alguns, até que um dia serão um monte de pessoas com o mesmo ideal, ou seja, de morte ao sistema! Morte ao comercialismo do sistema!....E aí só quem luta por seu ideal sobreviverá..Thank Forever Alam!"
No fanzine "Blood Vomits" de junho 1989, saiu a seguinte reportagem:
"A banda foi formada em setembro de 88 por Kraniim (vocal), Satã (bateria) e Skull Detonator (guitarra). Por serem muito pouco os que se identificam com o seu estilo, tornou-se difícil encontrar um baixista. Depois de dois meses já haviam doze músicas prontas, e apesar dos problemas (principalmente com a aparelhagem) que impede que a banda caminhe mais rápido, o NECROBUTCHER segue em frente com muito esforço e vontade de divulgar o seu som.
A proposta inicial e a eterna da banda é de fazer um Death Core Noise que se assemelhe a um liquidificador ligado, cheio de pedras, posers e regras medíocres da sociedade sendo triturados. Sem cair na bitolação da moda (Thrash), e sem ligar para o que os outros dizem ou não a respeito da banda, fazem o som e gostam do que fazem, foda-se o resto.
As principais influências são: SARCÓFAGO, NAPALM DEATH, DISSECTOR E EXTERMINATOR, e também: PROTECTOR, BATHORY, TERVEET KADET, HELLHOUSE, BELETH, DECEASED, SLAUGHTER...
Contacts: A/C Kranium Rua Tiago da Fonseca - 187 - Capoeiras - Florianópolis (SC). CEP: 88.000".
Aqui algumas letras das músicas do Necrobutcher.
ANTROPOPHOBY- Churches, priests and his ged/ Multinationals, TV and its consumers/ Ignorant society, insane/ Will die with your disease/ Because don`t see the true reality/ I hate you, idiots/ I make my part and you?/ Stay stoppeds awaiting for help/ Of a god that no exist/ And whose are your explorer/ I show you the reality/ But only your conscience/ can save you, FOOL!!!
SLOW CREMATION- Industries imposes its laws/ Nuclear pollution defecated on the air that sustain our rotten existence/ The life being exiled/ The earth dying for/ Ignorance and consumption/ Mankind blind for money/ Slow cremation! Killing lifes/ Slow cremation! Only for ambition/ We are being corroses/ Desintegration alives/ Stop with your ignorance/ And finish with this destruction/ Slow cremation! Burning the earth/ Slow cremation! World suicide/.
http://rapidshare.com/files/51054119/NECROBUTCHER_-_Demo-_Schizophrenic_Crhistianity.zip
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